Por Helena Speier Paulino Pereira - Aluna do Mestrado em Gestão - Faculdade de Economia da UNL
Como levar as crianças a comerem de maneira mais saudável e o que se pretende?
As constantes lutas que os pais têm em levar as crianças a comerem comida saudável são bem conhecidas. Várias frases passaram de geração a geração como: "Se comeres muito açúcar, os teus dentes caem", "Tens de comer muitos espinafres para ficares forte como o Popeye" ou "A cenoura faz com que os teus olhos fiquem mais bonitos".
Apesar dos benefícios dos alimentos funcionais no combate e na prevenção de muitas doenças como o cancro, as doenças cardiovasculares e a obesidade, a chamada "junk food" continua a ser a comida preferida dos mais pequenos. O que leva então que certos alimentos sejam adorados por uns e detestados por outros? Será possível influenciar positivamente sabores ou atributos de certo tipo de alimentos dando animação à comida?
Múltiplos factores influenciam a maneira como comemos e aquilo que comemos. Para além dos factores internos (como a fome, apetite e sabor) existem factores externos que actuam inconscientemente sem que os consumidores se apercebam, como a aparência, o cheiro, a percepção de volume e as normas sociais. Apesar do que se possa pensar, por dia são tomadas mais de 200 decisões alimentares, sendo a grande maioria impulsiva e estimulada pelo sistema sensorial, dificultando, por isso, o seu controlo.
Com o objectivo de perceber a percepção de certos alimentos na expectativa do sabor e na preferência, foi analisado o impacto da animação na comida. Numa escola, as crianças foram servidas numa primeira semana sem animação e na semana seguinte com animação.
Foi verificado que, no geral, as crianças têm tendência a comer mais sob o efeito da animação, sendo este aumento acrescido com a idade. O género das crianças não se revelou significativo para a análise. No entanto, a idade demonstrou ser um factor significativo, sugerindo que há um efeito maior da animação com crianças mais velhas, uma vez que a animação aumenta a saliência e atenção, influenciando a ingestão dos alimentos. Nas crianças mais novas, por sua vez, a animação diminui o consumo, dado que demoram mais tempo a processar a aparência do prato, ficando por isso distraídas pela animação e demorando mais tempo a comer.
Esta constatação prende-se com o facto da comida com animação ser vista como um todo organizado, sendo processada mais facilmente. "Comer" passa a ser visto como uma actividade divertida e interactiva, uma vez que, ao mesmo tempo que estão a comer, estão a brincar com o boneco, atenuando as propriedades que são normalmente atribuídas a alguns tipos de alimentos, como pouco saborosos, aborrecidos ou muito verdes. Em vez de prestarem tanta atenção ao facto de estarem a comer tomate ou alface, prestam mais atenção ao facto de se tratar dos olhos ou da boca do boneco.
Salienta-se assim a importância da aparência na comida como sendo o primeiro indicador na expectativa do sabor e da preferência, sugerindo que o sucesso atribuído às grandes empresas de "fast food" reside não na qualidade e na natureza dos alimentos, mas no tratamento que dão às crianças, dando-lhes a possibilidade de comerem com as mãos, oferecendo-lhes pacotes especiais e a possibilidade de brincarem a seguir à refeição.
Baseado no trabalho "The influence of animation on functional food intake in children", Mestrado em Gestão, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, 2009. Trabalho orientado pela professora Els De Wilde.