Uma investigação norte-americana revela que a melhor forma de evitar um surto de gripe é parar a transmissão da doença através da vacinação. Em vez de concentrar as vacinas no grupo de pessoas mais vulneráveis contra uma dada estirpe do vírus, Jan Medlock e Alison Galvani consideram que é mais eficaz apostar-se no benefício indirecto desta arma — a diminuição da transmissão da doença.
Segundo o artigo publicado na edição on-line da "Science", para os Estados Unidos, se houver um lote de 63 milhões de vacinas disponíveis, as crianças e jovens em idade escolar dos cinco aos 19 anos e os adultos dos 30 aos 39 deveriam ser os primeiros a serem vacinados para se extinguir ou prevenir um surto.
"Parar a transmissão entre crianças, das crianças para os pais, e depois para o resto da população é mais eficaz a minimizar maus resultados do que vacinar os que estão em maior risco de morrer", disse ao PÚBLICO por e-mail Jan Medlock, da Universidade de Yale, em Connecticut.
Decisão ética e económica
As vacinas não são cem por cento eficientes e, nos mais velhos, o segmento da população mais afectada pelas estirpes que atacam todos os anos, a eficácia ainda é mais reduzida. Por isso, o investigador defende que se vacinem as pessoas que promovem a transmissão entre a população, o que evitaria a doença chegar aos que estão mais em risco.
Todos os anos o mundo prepara-se para o novo surto de gripe com uma vacina sazonal feita em contra-relógio. Cada país tem um stock de vacinas. A escolha da população a vacinar tem que ver com uma decisão ética e económica, como proteger os mais vulneráveis, ou os que são mais importantes para a manutenção da sociedade.
Os autores preferiram apostar em perceber a dinâmica da transmissão do vírus para travá-la com as vacinas. Depois, testaram uma série de variáveis: o número de vacinas disponível, o padrão da mortalidade — se será como a gripe de 1918, que matou mais jovens, ou a pandemia de 1957, que matou preferencialmente idosos —, o número de pessoas a que um doente transmite a doença, o período de tempo em que se está doente, etc.
A partir daqui construíram-se cenários. "Ficámos surpreendidos que os resultados tenham sido tão similares para diferentes padrões de mortalidade", explicou o investigador.
De facto, tanto para a simulação da pandemia de 1918 como de 1957, com vacinas suficientes, os grupos da população a vacinar seriam os mesmos — crianças em fase de escolaridade e os pais. Só havendo menos de 37 milhões de vacinas, no caso de uma epidemia como a de 1957, que atacou sobretudo os mais velhos, é que se devia dar preferência aos idosos.
O estudo compara ainda o número de doentes, mortes e custos associados entre as simulações e as políticas passadas e presentes de vacinação do Centro de Controlo de Doenças dos EUA, para a gripe sazonal e para o caso actual da gripe suína. Na grande maioria dos casos, as simulações resultam em menos doentes, mortes e custos. "Esperamos que [o Governo] considere o estudo uma ajuda para a formulação de novas políticas."