A Linguagem é uma das funções mais importantes do Ser Humano, visto que, é através dela que nos é possível comunicar.
Além desta componente comunicacional, a Linguagem é também "um fenómeno social, regulado por um conjunto de regras codificadas."
É de ainda salientar que a Linguagem "é igualmente um instrumento do pensamento, uma dimensão essencial da vida afectiva que sustenta o processo de desenvolvimento psiquíco, e um factor central no processo de socialização". (Neves, 2004)
Esta função é de tal forma significativa que atravessa transversalmente todas as dimensões social, afectiva e cognitiva do indivíduo.
A Aquisição da Linguagem
O Homem é um animal social, como tal, sofre uma influência significativa do Meio onde está inserido.
Temos que ter em conta esta premissa se queremos compreender de um modo global a forma como se desenrola o processo de Aquisição da Linguagem.
Este é um processo complexo que pressupõe uma aprendizagem que implica a utilização de modelos de referência.
A criança não vai utilizar todos os indivíduos que interagem com ela como modelos. Só os indíviduos com quem desenvolveu um determinado laço afectivo é que vão ser utilizados para este efeito.
O modelo por excelência, é a figura materna (ou outra que a substitua, caso não seja possível a sua presença).
É na relação precoce onde se começa por estabelecer o primeiro laço afectivo com um real significado para a criança, que o processo de Aquisição da Linguagem se inicía.
Logo após o nascimento cria-se entre a mãe e o bebé uma relação biunívoca, em que os intervenientes se estimulam mútuamente.
O papel da mãe passa essencialmente pela satisfação das necessidades da criança e pela estimulação do seu desejo de comunicar.
É este factor desejo, que é determinante na aprendizagem da linguagem apesar da criança nascer com a capacidade para a adquirir.
" O recém-nascido e a mãe mantêm verdadeiros diálogos feitos de mimíca, sons, gritos, contacto corporal e cheiros, sendo este último o elemento de reconhecimento mútuo privilegiado." (Neves, 2004)
Numa primeira fase observa-se uma espécie de fusão entre a mãe e o seu bebé.
Posteriormente, a partir dos 3-4 meses, esta relação fusional vai-se atenuando para dar lugar ao Processo de Simbolização (representar o outro na sua ausência). Este processo inicía-se no momento em que a criança já é capaz de fazer a distinção entre o Eu e o Outro.
Na culminação deste processo de diferenciação, a criança cria uma noção clara da sua realidade externa e interna e, adquire a sua autonomia.
Temos que ter em linha de conta este processo de separação/individualização da criança relativamente à figura materna, se pretendemos compreender as Perturbações da Linguagem, pois estas tanto podem ter uma etiologia orgânica como emocional.
A explicação para isto prende-se com o facto da criança, ao tomar consciência da sua autonomização e consequente separação da mãe, começar a desenvolver o receio de a perder. A angústia desencadeada por este tipo de situação, poderá levar a Atrasos na Linguagem. A resolução da mesma passa pela securização da criança levando-a a desenvolver sentimentos de segurança e confiança, de forma a que esta perceba que não irá perder o amor materno.
A questão da influência da qualidade da relação precoce no desenvolvimento da Linguagem é de tal forma pertinente que, como é referido por Leitão (1994), a maioria dos estudos efectuados no sentido de avaliar até que ponto o comportamento das díades influenciava no posterior desenvolvimento de um atraso na linguagem, concluíram que as mães de crianças com esta problemática eram "mais directivas e menos sensíveis" do que as mães de crianças normais.
Daí que "a mãe que oferece um excelente modelo verbal à criança, articula claramente, usa frases curtas e simples-apropriadas à idade e ao nível de desenvolvimento da criança - emprega palavras e frases que correspondem estreitamente às da criança, ensina-lhe palavras novas, diferenciações entre objectos e conceitos vizinhos, fornece-lhe um feedback verbal especifíco e imediato, tudo isto num clima de encantamento recíproco". (Ajuriaguerra, 1985)
Sofia Esteves - Cadernos de Educação de Infância
Data: Abr./Jun. 2005
Bibliogafia:
Ajuriaguerra J. (1985). Manual de Psiquiatria Infantil. 2º Ed., Editora Masson Lda.
Gleitman H. (1986). Psicologia. 2º Ed., Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian.
Leitão F. (1994). Interacção Mãe-Criança e Actividade Simbólica. Lisboa: Secretariado Nacional de Reabilitação.
Neves M. (2004). Perturbações Familiares Precoces e Alterações da Linguagem. Lisboa: Edição Própria Autora.