Chama-se Maria, nasceu anteontem, por cesariana, em Sevilha, e é um pequeno milagre da medicina. Uma equipa internacional, liderada por espanhóis e aconselhada por médicos brasileiros e americanos, conseguiu a 31 de Julho realizar a primeira intervenção cirúrgica fetal feita na Europa para corrigir a espinha bífida, ou mielomeningocele.
A espinha bífida é uma malformação da medula espinal, que não se desenvolve completamente, implicando o contacto com o líquido amniótico. Em Espanha, uma em cada 3500 crianças tem a doença, sendo geralmente operada após o nascimento, o que não elimina os riscos neurológicos do período de gravidez: a doença tem efeitos tão devastadores como paralisia, ou ainda hidrocefalia, afectando vários órgãos do corpo. A detecção precoce do problema leva muitos pais a optarem por um aborto, mas este não foi o caso dos pais de Maria, apesar da anomalia ter sido detectada na 21ª semana de gravidez.
No caso da bebé de Sevilha, foi feita uma intervenção cirúrgica ainda durante a gestação, com o período ideal a decorrer, para estas intervenções, entre a 21ª e a 27ª semanas.
A cirurgia foi extremamente complexa, implicando anestesia da mãe e do feto, cuja medula exposta foi protegida com pele retirada da parte lateral da sua coluna. O feto foi previamente retirado do útero da mãe e ali reposto, com líquido amniótico.
No resto da gravidez, não houve registo de mais problemas e Maria nasceu, aparentemente saudável, com 2 quilos e 75 gramas de peso e 40 centímetros de comprimento.
Os médicos sublinham que a intervenção não visou curar a espinha bífida da bebé, mas apenas evitar as complicações resultantes do problema. Ninguém sabe ainda se a intervenção cirúrgica vai ter efeitos, não está afastada a possibilidade de futuras dificuldades, mas até agora não houve indícios de problemas.