Um estudo revela que as crianças americanas de hoje temem sobretudo ataques terroristas, raptos e violência escolar.
Em Portugal, as notícias trágicas veiculadas pela TV são as principais fontes dos novos medos infantis.
Medo de ataques terroristas, de ser raptado, de assistir a um ataque armado na escola, da sida, de tornados ou furacões. Estes são hoje os maiores medos das crianças e jovens norte-americanos, segundo um estudo da Universidade de Alabama, nos Estados Unidos, que recomenda a necessidade de limitar o acesso das crianças e dos jovens à televisão.
Em Portugal, segundo Vítor Cláudio, psicólogo clínico, professor e investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) não há estudos actuais sobre os novos medos das crianças. Mas, refere o médico, serão um pouco diferentes dos das crianças norte-americanas. "A realidade portuguesa é muito diferente da dos Estados Unidos", diz, acrescentando, porém, que concorda com a necessidade apontada no estudo da Universidade de Alabama de os pais e educadores controlarem o acesso dos mais novos à informação sobre acontecimentos de tragédias na televisão e na Internet.
"Notícias de raptos na televisão podem claramente exacerbar na criança o medo de ser raptada", explica Vítor Cláudio, sublinhando que a televisão tem aí um papel amplificador. "É bem possível que isso tenha acontecido, aliás, na altura em que o caso da menina inglesa que desapareceu no Algarve (Madeleine McCann) esteve muito presente nos noticiários", nota o psicólogo clínico.
Assim, se há alguns anos, os miúdos tinham essencialmente medo do lobo-mau, hoje a televisão mudou-lhes os receios.
As representações do medo, porém, podem alterar-se de acordo com as vivências e percepções sociais, e é neste quadro que se insere a investigação realizada pelo grupo da Universidade de Alabama, cujo objectivo foi justamente perceber, na sequência de acontecimentos trágicos muito mediatizados, como o 11 de Setembro, o furacão Katrina ou a guerra do Iraque, se teriam emergido novos medos no início do século XXI nos jovens americanos. E a resposta foi sim.
A equipa avaliou 1033 crianças e jovens com idades compreendidas entre os sete e os 18 anos, de 23 escolas de dois estados diferentes do país. Entre os sete e os 14 anos, um dos medos no topo da lista é o de ser raptado. Este é mesmo o medo que está em primeiro lugar na faixa etária dos sete aos 10.
Nas crianças entre os 11 e os 14 anos, esse é o medo que fica em terceiro lugar. Ser ameaçado por armas está entre os cinco primeiros para todos os inquiridos. A sida é outra preocupação nesta short list, também para todas as faixas etárias. Não conseguir respirar ou morrer estão também entre os cinco principais medos. A lista inclui ainda o medo dos tornados dos furacões, dos terroristas e de afogamento.
Segundo o psicólogo português, a mediatização das tragédias e homicídios contribui para um sentimento colectivo de insegurança. "Estamos a tender para uma sociedade em que as pessoas só se sentem seguras com um polícia em cada esquina", diz, explicando que se o medo tem um lado adaptativo necessário à sobrevivência, o exagero de tragédias nunca é positiva.