No castelo do Trolaró viviam muitos guerreiros.
Eram marqueses, duques, condes, barões… Não sabiam trabalhar, só pensavam em lutar.
Os camponeses trabalhavam para eles: davam-lhes tudo o que precisavam para comer e até o óleo para as brilhantes armaduras.
No dia da grande festa do Castelo do Trolaró, organizou-se um vistoso torneio: os guerreiros iam lutar uns com os outros para ver qual deles era o mais valente.
Antes da terrível luta, houve um desfile dos marqueses, duques, condes e barões.
Começou o combate! Quem iria ganhar?
D. Policarpo Picoalho, o Justiceiro, feroz e duro, foi de todos o primeiro a fugir, cheio de medo e a sangrar.
D. Fernando Arremacho, marquês de Carambola, levou uma cacetada na tola.
D. António Sigesmundo Meireles y Torrado levou uma espadeirada no rabo.
D. Mário, o Olímpico, duque de Algueirão, ficou estendido, ao comprido, no chão.
D. Sancho, barão dos quatro Costados, ficou partido em mil bocados.
O conde de Corroios, D. Luís Simão, tinha uma reluzente armadura comprada em segunda mão, mas agora estava estragada.
Afinal quem ganhou?
Ficou apenas um monte de sucata
do que eram vistosas armaduras.
Ficaram apenas trastes metálicos
de elmos, arneses, cotas de malha
tudo despojos, tudo tralha.
Afinal quem ganhou?
Foi alguém que não era guerreiro,
não era conde nem barão
não era duque nem marquês...
Foi o ferro-velho, que levou a sucata
pelo tesouro de boa lata!
Luís Manuel de Araújo
Os guerreiros do ferro-velho
Lisboa, Plátano, 1982
adaptação