Deram ao cachorrinho o nome de "Táxi". Com tantos nomes disponíveis, logo foram escolher este! Mas ele não se importava.
— Táxi — chamavam.
E ele vinha, a dar ao rabo, sempre contente.
Mas eram os donos de má qualidade. Gostavam de brincar com o cachorrinho, pois gostavam, mas quando o viram crescer e transformar-se num grande cão disseram:
— O Táxi só está a estorvar. Não podemos mantê-lo cá em casa.
Abandonaram-no. Há gente assim, sem coração.
O Táxi viu-se no meio de uma rua, com grande movimento, e desorientou-se.
Cheirou o ar e não deu com o caminho de casa. Nem valia a pena.
Supomos que o Táxi suspeitava que já o não queriam. Tinha de conformar-se. Ia ser um cão vadio, um cão de rua, um Táxi sem dono nem passageiro.
— Táxi — chamaram, perto.
Ele acorreu ao chamamento.
— Sai daqui, cão — enxotou-o uma senhora, que ia a apanhar um táxi.
— Táxi — chamaram, mais adiante.
O cão não se fez esperar, mas um senhor cheio de embrulhos, que ia a entrar num táxi, deu-lhe um pontapé.
Ele não percebia. Chamavam-no e logo o rejeitavam. Gente esquisita.
De desilusão em desilusão, foi ter a uma praça de táxis. Mero acaso. Um motorista, que estava à espera de freguês, partilhou com ele uma bucha com queijo.
— Como te chamas? — perguntou-lhe o motorista por perguntar.
Se ele pudesse responder… Fosse como fosse, talvez por afinidade, foi-se deixando ficar. Os motoristas acharam graça à alegre pressa com que ele se levantava dos quartos traseiros quando alguém pedia um táxi.
— É cá dos nossos — diziam.
E adoptaram-no. Continuava a ser um táxi livre, sem dono, mas protegido por uma quantidade de amigos.
Afinal, o nome Táxi sempre lhe valera para alguma coisa.
António Torrado
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