Era sexta-feira, dia de mercado, e o pequeno José dirigiu-se ao largo da aldeia, onde o vendedor de sorrisos instalava a sua carrinha. Era uma carrinha vermelha e amarela, com arabescos dourados desenhados que diziam: "Venda de sorrisos, risos loucos e outros risos escondidos".
Este pequeno comerciante era muito gordinho e vendia sorrisos como se vendem bombons, só que muito mais caros. Enquanto os risos de chacota eram vendidos a 2 euros cada um, os meio-sorrisos custavam 60 euros, e as gargalhadas 150 euros.
Apesar dos preços elevados, o pequeno vendedor de sorrisos vendia sempre muitos. Alguns habitantes da aldeia chegavam com o cesto a transbordar de alhos franceses, cenouras, batatas e colocavam um pequeno envelope de sorrisos por cima dos legumes.
- Venham cá! - chamava o vendedor que, como é óbvio, exibia um enorme sorriso de comerciante. - Aqui, só há felicidade! Trago-vos meio-sorrisos, muito fresquinhos; também há sorrisos maliciosos. A super-promoção de hoje é para os sorrisos de palhaço: custam menos 30%.
Os risos contagiosos nunca estavam em promoção, pois levariam o pequeno comerciante à falência. Bastava comprar um para fazer rir toda a aldeia!
O pequeno vendedor ganhava muito dinheiro naquela aldeia: os habitantes eram tão tristes que consumiam logo o sorriso ao balcão.
- Venham, venham, há cá boa gargalhada! - apregoava o pequeno comerciante.
E toda a gente ia para casa a contar histórias engraçadas. Toda a gente… excepto o pequeno José, que não tinha dinheiro. Normalmente, as crianças não têm necessidade de comprar risos, nem sorrisos, porque os têm. Mas pode acontecer que o sorriso lhes seja roubado por um adulto tolo e mau. Era o que se tinha passado com o pequeno José. O seu sorriso tinha desaparecido, e o menino tinha ficado sozinho no seu canto.
Antes de ir para a escola, o pequeno José esforçava-se. Punha-se em frente ao espelho, apoiava as mãos nas ancas, franzia o sobrolho e dizia:
- Ri-te, vá lá, ri-te! 1, 2, 3… Sorriso!
E exibia um belo sorriso de palhaço. Mas este sorriso de palhaço pesava-lhe como uma máscara de metal. Era necessário ter uma força de gigante para o manter. Então, após três ou quatro tentativas, o sorriso desaparecia. O pequeno José olhava o seu reflexo na vitrina de uma loja e via o seu rosto carregado e fechado. O sorriso tinha desaparecido.
Naquela sexta-feira, José pôs-se na fila de espera, decidido a pedir ao pequeno comerciante para lhe emprestar um sorriso. À sua frente, na fila, estava um gigante triste e melancólico. Quando chegou a vez, o gigante triste procurou algumas moedas, com os dedos grossos, no seu minúsculo porta-moedas, e pigarreou:
- Não tem… um riso qualquer por dez cêntimos?
O pequeno comerciante procurou num frasco e arranjou-lhe um niquinho de sorriso em saldo. José ficou ainda mais triste, porque não tinha sequer dinheiro para comprar um meio-sorriso. Nem uma moedinha para pedir um sorriso malicioso ou um riso escondido.
No entanto, quando se apercebeu do pequeno José, o comerciante redondinho esboçou um largo, muito largo sorriso.
- Queres alguma coisa, meu rapaz? - perguntou.
José suspirou e mostrou os bolsos vazios.
- Não tens dinheiro. Hum…
O pequeno comerciante examinou José, dos pés à cabeça, durante longos minutos… Depois disse:
- Preciso de um rapazinho como tu, um rapazinho que tenha perdido o sorriso. Diz-me uma coisa… estás interessado em trabalhar comigo?
José abriu muito os olhos, mas não pronunciou qualquer palavra: estava demasiado excitado! No entanto, o pequeno comerciante, especialista em sorrisos interiores, tinha compreendido.
- Então, entra! - convidou o comerciante. - Entra na minha carrinha. Logo que acabe de atender os meus clientes, mostro-ta…
Estava escuro e o pequeno José arregalava os olhos. Havia centenas e centenas de prateleiras sobre as quais estavam colocados envelopes de todas as cores, cheios de sorrisos, cada um com o seu nome. Havia também frascos cheios de risos por gestos e de risos loucos! Nas etiquetas, o pequeno José podia ler: "caretas", "meio-sorriso", "sorriso desdentado", "sorriso feliz", "riso de superioridade", "riso de troça", "sorriso de delicadeza".
- Onde é que encontrou todos estes sorrisos? - perguntou o rapazinho.
- Ah ah ah! - riu o pequeno comerciante muito gordinho. - Às vezes, basta apenas levantá-los do chão ou apanhá-los do ar!
O homenzinho levantou-se e mostrou-lhe uma rede para apanhar borboletas.
- Normalmente, abro um envelope e agarro o sorriso invisível. Nos dias de Verão, quando o ar cheira a morangos, basta-me estender a mão: os sorrisos de felicidade e os sorrisos loucos correm por todo o lado! No Inverno, é um pouco mais difícil. Com o frio, os rostos têm mais dificuldade em descontrair e sorrir. E quando um rosto faz uma careta, arrasta outras caretas. No Inverno, há epidemias de rostos tristes, como epidemias de gripe. Ganho muito pouco no Inverno.
O homem olhou para o pequeno José:
- Vou explicar-te o que espero de ti. O que me interessa é ver os outros sorrir. Toda a gente, percebes? Mesmo os que não têm dinheiro, mesmo aqueles a quem foi roubado o sorriso da infância. É por isso que estás hoje aqui. Se quiseres, fazes alguns testes. Vais experimentar todos os sorrisos e risos… Vais estudá-los e ver os que são mais eficazes para fazerem sorrir os outros: aqueles com os quais podemos fazer amigos. O sorriso é como um laço entre as pessoas. Quando sorris, é como quando estendes a mão a alguém, percebes?
Claro que o pequeno José entendia. E estava contente, tão contente! Haverá trabalho mais agradável do que testar sorrisos? Durante um mês, trabalhou para o pequeno comerciante. Experimentou, um a um, todos os sorrisos, e todos os risos. Passeava de metro, de autocarro, punha-se nas filas do cinema e do teatro; ia à piscina, à cantina, e anotava, num pequeno bloco, que efeito tinha o sorriso sobre as outras crianças.
Um dia, no autocarro número 83, pôs um sorriso de palhaço, um daqueles sorrisos que soam um pouco falso. As pessoas aproximaram-se dele mas, em poucos segundos, toda a gente se pôs a chorar, como se tivessem adivinhado que havia tristeza por detrás daquele sorriso demasiado grande.
Num outro dia, no autocarro 38, abriu o envelope e dele saiu um bonito "sorriso de delicadeza" com o qual olhou para as pessoas. Os viajantes sentaram-se durante alguns minutos, pigarrearam, olharam para o relógio, e depois, como José continuava a sorrir sem nada dizer, partiram tal como tinham chegado. "O sorriso de delicadeza é bom no início, mas não chega para fazer amigos", escreveu o pequeno José.
Quando engoliu um sorriso louco, foi terrível! No metro, pôs-se a rir sozinho, e toda a gente riu com ele. Toda a gente ficou louca. As pessoas batiam com a cabeça no vidro e ninguém se falava. E saíam sempre a rir, sem poder sequer trocar um número de telefone. Só queriam assoar-se e tapar os olhos, agora cheios de lágrimas. "Demasiado violento, sobretudo quando as pessoas não se conhecem. Tentar outra coisa para fazer amigos", escreveu o rapazinho.
Com o riso de superioridade, aquele que é utilizado para fazer troça dos outros, passou-se algo de muito esquisito: as pessoas ficavam muito pequeninas e ele via-se como um gigante rodeado de pigmeus que o olhavam com um ar aterrorizado. "Nada de especial", pensou o pequeno José que, nessa noite, deitou este riso na sanita e puxou o autoclismo.
Quando, dois dias depois, estreou o seu "riso contido" (uma espécie de riso que se parece com um gemido), verificou que muitos pares de olhos, espantados, se fixavam nele, como se dissessem: "Estás a gozar-me? Estás a cacarejar?" Não teve mais sucesso com o meio-sorriso: "O que se passa? O que foi? Estás a rir-te de mim ou quê?" pareciam dizer as pessoas.
Na sexta-feira seguinte, José foi de novo ter com o pequeno comerciante e reparou que este já não estava tão rechonchudo, porque tinha envelhecido muito.
Apoiava-se na bengala com muita dificuldade e os seus olhos tinham perdido todo o brilho. Ouviu, todo a tremer, o pequeno José falar das suas experiências.
- Está perfeito - disse, numa voz estremecida. - Saíste-te muito bem a testar sorrisos e risos. Tenho uma surpresa para ti.
O vendedor mostrou-lhe um frasco que brilhava e murmurou:
- Acabo de o encontrar: é o sorriso magnético, o sorriso mais profundo! Coloquei-o num frasco. Bebe-o!
José bebeu, e sentiu-se logo cheio de luz: uma sensação de calor subiu pela sua barriga, fez-lhe cócegas nas orelhas, e provocou faíscas nos seus olhos. José sentiu-se muito forte.
- É esquisito, sinto-me a desfazer por dentro - disse.
- Vai à tua vida, meu rapaz - murmurou o homenzinho. - Depois vem dizer-me se este sorriso é eficaz para fazer amigos.
O pequeno comerciante tinha razão: aquele riso era totalmente mágico! Quando saiu da carrinha, o pequeno José viu que todos os habitantes da aldeia queriam ficar junto dele.
- Ó rapazinho! Rapazinho! Fica comigo! - gritou o gigante tristonho. - Diz-me por que tens um ar tão feliz.
Quando chegou à escola, as crianças chamaram:
- Olá, José, olá!
Então, o pequeno José pôs-se a rir ainda mais, mas com um riso de prazer. Um daqueles que ainda não tinha experimentado. Escreveu: "Sorriso mágico, magnético, de gigante!"
E como este sorriso o tornou mais inteligente, escreveu ainda: "Nada tem a ver com o sorriso de palhaço, que se cola ao rosto e que desaparece do mesmo modo que chega. Este sorriso vem do interior de cada um e ilumina toda a gente." E escreveu ainda: "Tudo o que é importante vem do mais fundo de nós."
Quando o pequeno José regressou à carrinha, continuava a sorrir.
- É o sorriso mais maravilhoso que existe. Toda a gente devia possuir este sorriso tranquilo, porque as pessoas se aproximam de nós e sorriem também. E isso dá-nos mais vontade de sorrir.
O pequeno comerciante suspirou com um ar satisfeito e depois fechou os olhos. José viu pequeninas lágrimas de alegria brilhar como pérolas, ao cantinho das pálpebras do homem.
- Sabes - disse-lhe o vendedor - este sorriso do fundo é a obra da minha vida. Passei muito tempo a procurá-lo e agora posso descansar. Mas quero dar-te um presente…
Entregou a José um pequenino frasco vazio.
- Conserva o teu sorriso neste frasco, não o deixes desaparecer! Mete-o lá todas as noites, mantém-no com muito amor e amizade. E terás uma vida formidável - acrescentou o pequeno comerciante, já muito velhinho.
Quando apertou a mão muito fraquinha do vendedor de sorrisos, o pequeno José estava muito triste. Sabia que a carrinha partiria naquela noite e que não voltaria a ver o pequeno comerciante. Mas tinha posto naquele frasco o mais magnífico dos presentes, um peixinho ágil que se chamava "sorriso luminoso".
Sabia que, com este sorriso tranquilo, delicado e feliz, podia fazer muitos amigos. E que a sua vida se tornaria, de facto, maravilhosa.
Sophie Carquain
Petites leçons de vie. Pour l’aider à s’affirmer
Paris, Ed. Albin Michel, 2008
(Tradução e adaptação)