— NÃO VOU! — disse o pequeno anjo, batendo com o pé no chão.
Os outros anjos ficaram chocados.
— Tens de ir — sussurraram. — O Gabriel disse que todos tínhamos de ir. Disse que tínhamos de brilhar como estrelas no céu e depois ir saudar o bebé. Vão estar todos lá e ele vai ficar zangado se tu faltares.
— Mas ele não tem de saber, pois não? — perguntou o anjinho. — Se eu ficar aqui em cima até tudo estar terminado e vocês nada disserem, ele não vai saber.
— Vai, vai — disserem todos em coro. — O Gabriel sabe tudo. Não te recordas de que ele nos disse que sabia? Sabe sempre quando mentimos. Sabe se deitamos a língua de fora e sabe sempre se dizemos palavras feias. Por isso, vai descobrir que lhe desobedeceste. Anda daí!
Mas o anjinho não queria ir com eles. Então, deixaram-na ficar sozinha no escuro.
— Quero lá saber! — murmurou. — Não quero que todos olhem para mim e me vejam com este halo estúpido e com estas asas estúpidas. E, de qualquer forma, consigo ver tudo daqui de cima.
O anjinho olhou para a cena que se desenrolava a seus pés. Embora não quisesse ir, não queria perder o acontecimento. Viu os pastores com as ovelhas… Viu os três Reis Magos com as suas oferendas de ouro, incenso e mirra…Viu o estalajadeiro e a mulher, a vaca, o cavalo, o burro e os anjos.
Debruçou-se um pouco para conseguir vê-los a todos, a contemplar o bebé minúsculo num silêncio deslumbrado.
De repente, a escuridão desvaneceu-se.
Todos olharam para cima. O pequeno anjo estava banhado em luz, a luz que emanava de baixo.
Mas ela nem se mexeu. Não se podia mexer. Estava petrificada. Quando a sua boquinha começou a tremer, o silêncio foi quebrado por uma salva de palmas que ecoou em todo o auditório da escola.
O pequeno anjo, que brilhava mais do que a estrela mais brilhante, sorriu e todos o imitaram. Especialmente o Sr. Gabriel, o reitor.
Ruth Brown
One Little Angel
London, Andersen Press, 1998