O uso de andarilhos leva todos os dias aos hospitais portugueses pelo menos duas crianças, de acordo com a estimativa de um estudo apresentado no 8º Congresso de Pediatria, que decorre em Vilamoura, Algarve.
O estudo consistiu em inquéritos a 1.427 pediatras, praticamente todos os existentes no País, com questões sobre o tratamento de crianças acidentadas com andarilhos, disse à Lusa a pediatra Elsa Rocha, da Associação para a Segurança Infantil (APSI), que apresentou os resultados ao congresso.
"Dos 215 que responderam, 22% já tinham assistido bebés vítimas de andarilhos, mas esses 48 pediatras assistiram um total de 122 casos num ano", enfatizou Elsa Rocha, extrapolando que "se todos os pediatras tivessem respondido, teríamos cerca de 800 casos".
O estudo, promovido pela APSI e pela Unidade de Vigilância Pediátrica, reforça as conclusões de um outro estudo, do Observatório Nacional de Saúde, que aponta para cerca de 650 casos de acidentes com andarilhos por ano atendidos nos hospitais portugueses.
"Isto são só os casos que chegam aos hospitais, o que significa que há muitos mais acidentes em casa", afirmou a pediatra, recordando que se trata de crianças de tenra idade, entre os seis e os 18 meses.
O mesmo estudo do Observatório, realizado em 2004, aponta para que metade dos acidentes são quedas e 80 por cento resultam em traumatismos cranianos.
De acordo com os resultados dos inquéritos divulgados na terça-feira, cujo trabalho de campo decorreu em 2005, os traumatismos cranianos foram a causa de todas as 122 hospitalizações conhecidas.
Segundo a pediatra que apresentou o trabalho, essa alta incidência de lesões no crânio explica-se pelo facto de os bebés terem uma cabeça proporcionalmente muito grande e pesada e, por outro lado, terem os pés presos quando estão no andarilho.
Por outro lado, sublinhou, o estudo apontou para 100% de acidentes em escadas.
"Está provado que o andarilho é intrinsecamente perigoso e essa alta taxa de acidentes em escadas só prova que os pais não chegam a tempo na maioria das situações", disse.
Sublinhou que a velocidade de uma criança no interior de um daqueles aparelhos é de cerca de 1 metro por segundo, isto é, "muito superior a qualquer capacidade de reacção dos pais".
"No andarilho, como fica mais alta, ela chega mais e mais depressa aos objectos, com os riscos inerentes, começando a puxar toalhas e alcançando objectos que queimam ou cortam", disse.
Segundo Elsa Rocha, ao contrário de uma ideia feita ainda em uso, o andarilho não ajuda a criança a caminhar mais cedo, sendo mesmo desadequado ao desenvolvimento da capacidade de marcha.
O uso de andarilhos está regulado desde 2005 por uma norma europeia que obriga ao cumprimento de vários preceitos de segurança, entre os quais o uso de rodas que prendem quando chegam a uma escada.
Contudo, ainda não existem estudos sobre o real efeito dessas normas no número de acidentes, sendo essa precisamente a próxima etapa da APSI e da Unidade de Vigilância Pediátrica.