Quando era miúda, e como qualquer outra criança, não gostava de apanhar vacinas. Mas assumia que fazia parte do crescimento. Os meus pais, e a maioria dos americanos da sua geração, não se questionavam se os filhos deviam ou não ser imunizados. Viviam numa época em que ainda eram poucas as vacinas capazes de proteger as crianças de doenças debilitantes e mortais, como a poliomielite e o sarampo.
Quando, na década de 1960, as vacinas contra estas e outras doenças ficaram disponíveis nos Estados Unidos, foram consideradas prodígios da medicina moderna, protegendo-nos de algumas das doenças mais devastadoras para a humanidade.
Desde então, décadas de pesquisas científicas provaram que as vacinas são seguras e eficazes. Quando fui mãe, nunca questionei se os meus três filhos seriam vacinados. Nos Estados Unidos, a poliomielite já tinha sido eliminada há décadas e já todos tínhamos ouvido falar em sarampo. Mas noutros países ainda existiam estas e outras doenças cuja prevenção passa pela administração de uma vacina. Se não protegesse os meus filhos, eles correriam o risco de algum dia poderem ser infectados ou até mesmo morrer.
O recente surto de sarampo nos Estados Unidos serve para nos alertar, ainda que de modo discreto, de como as doenças infecciosas não conhecem fronteiras. Dada a frequência com que um ser humano viaja, é fácil para um vírus disseminar-se entre países e pessoas. As crianças que não são vacinadas tornam-se mais vulneráveis a infecções, e isso aumenta o risco para todos os outros.
A vacinação é um tema que me interessa não só por ser mãe, mas por ser alguém que trabalha com a saúde global. Quanto mais eu e o meu marido, Bill, aprendemos sobre vacinas, mais percebemos quanto são um dos maiores e melhores investimentos a fazer na protecção infantil.
As vacinas não só reduzem significativamente os óbitos infantis, como reduzem o enorme fardo que pesa sobre a família — sobretudo para as mulheres — quando têm de cuidar de uma criança doente. Se os pais estiverem livres desse peso, podem tornar-se mais produtivos e assim garantirem maiores ganhos para a família. Crianças saudáveis têm também maior oportunidade de se tornarem pais saudáveis e mais produtivos.
É com esse objectivo que nos últimos 15 anos a Fundação Bill & Melinda Gates tem vindo a investir mais de 4 mil milhões de dólares na Gavi, a Aliança da Vacina. A Gavi é uma organização internacional que reúne Estados, a ONU, o sector privado e grupos civis para garantir que centenas de milhares de crianças dos países mais desfavorecidos têm acesso a vacinação — trabalhando, por exemplo, para melhorar a distribuição de vacinas, reduzindo o seu custo. Até agora, com os esforços da Gavi, sete milhões de mortes serão evitadas e os investimentos previstos para os próximos cinco anos poderão prevenir outros seis milhões. Estes são resultados impressionantes.
Quando vou visitar países em desenvolvimento, como a Etiópia e o Gana, fico sempre impressionada com a forma apaixonada como as pessoas com quem me vou encontrando lidam com o tema das vacinas. Para muitas, é uma resposta pessoal ao facto de terem tido uma perda na família. Conheci dezenas de mulheres que perderam filhos devido a casos graves de diarreia, pneumonia ou outras doenças que poderiam ser evitadas caso houvesse uma vacina disponível por perto.
As vacinas estão a tornar-se cada vez mais acessíveis. Contudo, em países mais pobres, não é raro encontrar mulheres que sob um sol escaldante carregam os seus filhos ao longo de quilómetros para aguardarem numa fila de várias horas que as crianças sejam imunizadas. Para estas mães, não se trata de decidirem se querem ou não a vacinação dos filhos, mas sim como o podem fazer.
A dura realidade é que cerca de um milhão e meio de crianças ainda morre anualmente de doenças que poderiam ser evitadas. A cada 20 segundos morre uma criança, principalmente nos países mais pobres.
Os últimos 15 anos têm-nos ensinado muito sobre o que é necessário fazer para que as vacinas cheguem a mais crianças e a mais países. Chegou a hora de pôr em prática a lição.
Um passo importante é facilitar o acesso, armazenamento e administração das vacinas aos funcionários de saúde dos países pobres (muitas vacinas perdem potência se não forem mantidas refrigeradas). Criar uma "corrente de frio" que desde a produção à entrega mantenha as vacinas sob temperaturas estáveis torna-se particularmente difícil quando estamos a falar de países pobres, onde as redes eléctricas e os transportes não são de confiança.(...)