Avaliação de 5381 crianças e jovens indica que Portugal tem mais do dobro dos casos de outros países.
A hipertensão arterial entre as crianças e os adolescentes está a registar uma dimensão preocupante em Portugal. Um estudo apresentado durante o Congresso Português de Cardiologia permitiu concluir que 12,8% das crianças e jovens entre os 5 e os 18 anos têm a tensão demasiado alta.
De acordo com o autor principal, João Maldonado, que dirige a Clínica da Aveleira, foi realizada a avaliação de 5381 crianças dos distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu e Leiria. O estudo intitulado Prevalência da hipertensão arterial em crianças e adolescentes saudáveis - Registo da Aveleira, "ajuda a perceber porque temos uma prevalência de 42,1% de hipertensão na população adulta", refere ao DN.
O valor "é altíssimo. Os registos de outros países apontam para prevalências entre 4% e 5%, o que significa que temos entre o dobro e o triplo dos casos", alerta. Esta é uma doença silenciosa que se manifesta cedo e que "muitas vezes só é detectada em idades avançadas, quando as artérias já estão destruídas".
O estudo, suportado integralmente pelo cardiologista, foi uma oportunidade que não quis perder, quando entraram cerca de dez mil pessoas para fazer avaliações físicas para a prática desportiva. A avaliação foi realizada entre 2009 e 2010, no seguimento de um outro com menos envolvidos.
De uma forma global constatou-se que 65,8% tinham uma tensão normal para a idade e 21,6% entre normal e alta. Apesar de o número de raparigas ter sido substancialmente inferior, não houve diferenças entre sexos.
Mais preocupante foi o facto de não ter havido diferenças entre idades. "A prevalência aos cinco anos é semelhante à dos que tinham 18", explica o cardiologista. As razões para estes dados ficam agora abertas a estudo. "Pode passar pelo consumo elevado de sal, o que tem de ser estudado através de análises à urina. Pode haver outros factores genéticos ou ambientais que o expliquem".
Mário Espiga Macedo, cardiologista e membro da coordenação nacional para as doenças cardiovasculares não hesita em apresentar outra razão: "A hipertensão está directamente ligada à obesidade, que se verifica cada vez mais cedo".
João Maldonado também estudou esta vertente e conclui que, entre as crianças e jovens obesos, a prevalência da hipertensão subia a 20,5%, o mesmo acontecendo com a população com excesso de peso, com 16,5%. Baixava até aos 11,3% quando o peso era normal.
Outro aspecto importante foi a diferença encontrada entre os jovens que já praticavam desporto regular e os que estavam a iniciar. A hipertensão atingia apenas 9,8% no primeiro caso e ascendia a 14,3% quando não existia exercício físico regular.
"Penso que os 14% estarão, até, mais próximos dos dados reais, porque temos muitas crianças e jovens sedentários", avança. Mesmo quando um jovem é obeso ou tem peso a mais, este factor de risco é compensado quando se pratica exercício regular: 22,7% dos jovens obesos que estavam a iniciar actividade tinham hipertensão, contra 13,1% dos obesos que treinavam regularmente. "Apesar do peso, o exercício compensa os malefícios", conclui o investigador.