Plano de segurança na gaveta desde 2007.
Em apenas uma semana, houve seis acidentes graves com crianças em Portugal, três deles resultaram em mortes. Números trágicos que devem fazer pensar os pais e alertar o Governo e as famílias para a necessidade de prevenir perigos.
Não há uma estatística oficial sobre o número total de acidentes que envolvem crianças em Portugal, mas através do cruzamento dos dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (acidentes de viação) e do Observatório Nacional de Saúde (acidentes domésticos e de lazer), entre 2004 e 2006, a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) chegou à conclusão de que, todos os dias, há cerca de 700 acidentes com crianças no nosso país. A maioria, felizmente, sem gravidade, mas, garante Sandra Nascimento, presidente da APSI, "evitáveis" caso o Governo os encarasse como "um problema grave de saúde pública" e avançasse com a obrigatoriedade de medidas há muito identificadas, como a definição de regras para o sector da construção civil regulando, por exemplo, a altura e o tipo de guardas das varandas.
"É inacreditável como tudo isto não anda e nós continuamos a aceitar que as nossas crianças morram desta maneira", desabafou, ao JN, Sandra Nascimento, acusando o Governo de "falta de vontade de resolver" este problema.
A este propósito, lembra que, desde Novembro de 2007, nada mais foi feito pelo Plano Nacional de Acção para a Segurança Infantil - um conjunto de medidas e metas calendarizadas em sete áreas prioritárias para a redução destes números - que vinha sendo trabalhado com o Ministério da Saúde e envolvendo 54 entidades diferentes. Sandra Nascimento espera que a semana "desastrosa e trágica" que estamos a viver "abra os olhos do país" e obrigue o Governo a "assumir este compromisso com as famílias portuguesas"
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Contudo, a presidente da APSI não desvaloriza a responsabilidade dos pais, defendendo que "têm de ter mais capacidade de antecipar o comportamento das crianças e as situações de risco", tendo sempre presente que estão na idade da descoberta. Opinião idêntica tem Mário Cordeiro. O pediatra lembra que "as crianças não têm a experiência e a maturidade dos adultos", nem a capacidade de avaliar as consequências dos seus actos, pelo que insiste no "dever" dos pais de as proteger e dificultar os riscos que possam enfrentar.
A imprevisibilidade do comportamento das crianças é também apontada pelo psicólogo clínico Manuel Coutinho, coordenador da Linha SOS Criança. "Tanto quanto possível, os adultos não devem baixar a guarda", diz, insistindo que, quando estão em causa crianças, "o perigo é iminente" e é preciso "diminuir ao máximo o risco".
Contudo, por mais cuidados que se tenham, o psicólogo insiste que "ninguém está a salvo que uma coisa destas lhe aconteça". "Estas situações são acidentes porque não existe intenção. Os pais davam tudo para voltar atrás para que não acontecessem", diz, apelando a que não lhes apontem o dedo. "Estas pessoas têm um sentimento de profunda culpa e já estão a ser julgadas no tribunal da sua consciência".