Havia outrora, num país árido, uma árvore prodigiosa. Na planície só ela se avistava, por entre os campos de trigo definhado e a vastidão do céu azul. Ninguém sabia quantos anos tinha. Dizia-se que era tão velha quanto a Terra.
As mulheres estéreis vinham suplicar-lhe que as tornasse fecundas, os homens vinham, em segredo, procurar junto dela respostas a perguntas que não ousavam fazer, e os lobos falavam com ela, em noites sem lua. Mas nunca ninguém tinha provado os seus frutos.
Não obstante, eram frutos magníficos, tão luzidios e dourados que os ramos maiores se pareciam com dois braços esticados para o céu, repletos de folhagem… Por isso atraíam as mãos e as bocas das crianças ingénuas! Só elas se atreviam a desejá-los. Mas era então que se lhes ensinava a estranha e antiga verdade…
Metade daqueles frutos estava envenenada, embora todos, bons e maus, tivessem o mesmo aspecto. Dos dois ramos esticados que partiam do enorme tronco, um provocava a morte enquanto o outro conferia a vida! Mas não se sabia qual o ramo que nutria e qual o ramo que matava. E, por isso, todos olhavam para a árvore mas ninguém ousava tocar-lhe.
Eis senão quando chegou um Verão demasiado quente, seguido por um Outono seco e por um Inverno glacial. A neve e o vento destruíram os celeiros e os telhados dos currais. As geadas da Primavera queimaram os primeiros rebentos e a fome alastrou por toda a região. Apenas a árvore permanecia imperturbável na planície. Nenhum fruto apodrecera. Apesar do tempo frio, os frutos eram tantos quantas as estrelas no céu. Vendo a árvore solitária, miraculosamente protegida das tormentas, as pessoas aproximaram-se dela, indecisas e apreensivas.
Interrogaram a folhagem mas não obtiveram qualquer resposta. Depreenderam então que seria necessário escolherem entre o risco de caírem inanimadas, se provassem aquelas maravilhas douradas que reluziam por entre as folhas, e a certeza de morrerem de fome, se as não provassem.
No meio de discussões intermináveis e confusas, um homem, cujo filho estava prestes a morrer, atreveu-se a avançar, decidido. Parou diante do ramo direito, colheu um fruto, fechou os olhos, trincou-o e ficou de pé, respirando… felicidade!
Todos então se acotovelaram e se empanturraram, deliciados com os frutos sãos do ramo da direita que, uma vez colhidos, logo voltavam a crescer por entre a verdura sussurrante. Todos exultaram de alegria, festejando durante oito dias, rindo do medo que tinham sentido durante tanto tempo.
Dali em diante sabiam onde estavam os frutos malfazejos da árvore: no ramo da esquerda. Primeiro, fixaram-no com um olhar desafiador, em seguida, experimentaram um rancor de ódio. Por pouco não tinham morrido de fome, devido ao medo que tinham tido.
Rapidamente o consideraram tão inútil quanto perigoso. Uma criança distraída poderia bem pegar num daqueles frutos perversos, que em nada se distinguiam dos bons. Decidiram então cortar aquele ramo ao nível do tronco, o que fizeram com uma espécie de alegria vingativa.
No dia seguinte, todos os frutos bons do ramo da direita estavam caídos, apodrecendo por entre o pó. Amputada da sua metade envenenada, a árvore reduzia-se agora a uma mera folhagem encarquilhada. O tronco enegrecera. Os pássaros tinham-na abandonado. A árvore tinha morrido.
Henri Gougaud
L’arbre d’amour et de sagesse
Paris, Editions du Seuil, 1992
(Tradução e adaptação)