O conceito de família tem-se alterado significativamente na nossa sociedade. Os casamentos já não são para a vida toda, as pessoas casam-se várias vezes e têm filhos de diversos casamentos. Como lidar então as situações de divórcio ou separação, de forma a proteger os filhos?
Há que ter em conta que a relação conjugal é diferente da relação parental. Estão interligadas, mas devem manter-se separadas. Muitas vezes os pais mantém-se casados e infelizes em função dos filhos. Isto não é saudável. Não é liquido que se protejam os filhos assim – por mais cuidado que exista é inevitável acontecerem discussões ou o relacionamento não ser o melhor, com pouca comunicação e frieza – e mantêm-se pelo menos duas pessoas infelizes.
Quando se pondera um divórcio ou separação, a menos que não haja outra solução, pode ser útil recorrer a um psicólogo, para que, com a ajuda de uma terceira pessoa que está de fora, se possa chegar a uma decisão. Por vezes há a possibilidade de melhorar o relacionamento e resolver as questões que o estão a prejudicar, por vezes a separação é o melhor caminho. Contudo, seja qual seja a decisão, esta deve ser pensada e negociada e até mesmo preparada e planeada, de forma a evitar efeitos nefastos não só nas pessoas que constituem o casal como também nos filhos e outros familiares - isto porque, naturalmente, uma situação de rotura pode afectar os pais ou sogros do casal.
Tendo-se chegado a uma decisão de separação – e até mesmo antes desta – há que comunicar adequadamente com as crianças ou adolescentes. As crianças apercebem-se de que alguma coisa não está bem e convém que lhes seja explicado que o problema não é deles, mas sim dos pais. Que os casais às vezes discutem, como eles às vezes discutem com os amigos. Que eles não são responsáveis pelo que se está a passar, o que é muito comum acontecer na cabeça das crianças. A comunicação é tanto mais importante em filhos com idades mais avançadas, já que a separação dos pais será certamente sentida como negativa e poderá ser geradora de dor.
Tipicamente, há a tendência por vezes de triangular os filhos, ou seja, desabafar com eles, tentando colocá-los de um ou outro lado. Falar mal da mãe ou do pai ao filho é negativo e deve ser evitado. Ao se fazer isso, coloca-se o filho numa situação muito difícil. Afinal gosta dos dois e está a ser-lhe pedido que tome partido. Da mesma forma, pode ser destrutivo perguntar a uma criança de quem é que gosta mais, se do pai se da mãe. Imaginem se um dos vossos filhos lhes perguntasse de qual dos irmãos é que gostam mais…
Não tenhamos ilusões: uma situação de rotura será sempre difícil para toda a gente. Se se tornará problemática, isso dependerá de como as coisas forem conduzidas. A primeira regra, como já referido, é a separação dos papéis. Uma coisa é ser pai, outra é ser marido. Assim sendo, as questões relacionadas com um ou outro papel devem ser abordadas e tratadas nesse âmbito. Dizer que o pai foi infiel quando se está a discutir para que colégio vai o filho não faz sentido.
Da mesma forma, há que evitar interferências exteriores ao casal. Nestas situações muitas vezes os sogros ou pais tentam intervir ou tomar partidos. Novamente, o problema é do casal e deverá ser resolvido por ele, eventualmente com ajuda especializada.
Acima de tudo, há que ter consciência de que apesar da relação conjugal ter terminado, ainda há a relação parental. Nesse sentido, os pais deverão manter uma comunicação e relação adequada no que diz respeito aos filhos. Isto envolve naturalmente muita negociação, daí a importância de se conversar e planear adequadamente todas as questões práticas: Tempo com os filhos, custódia, alturas de festas como Natal, aniversários, etc. Se houver um plano previamente definido e negociado em relação as estes aspectos, poder-se-á diminuir eventuais tensões. Mas isto não quer dizer que não haja espaço para a flexibilidade. Tudo dependerá do novo tipo de relação que é construída entre o ex-casal.
Resumindo, estas pequenas dicas resumem-se a duas coisas: comunicação adequada e relacionamento se não bom, pelo menos cordial.
No que diz respeito aos indivíduos durante ou depois da separação, é vulgar que as pessoas se sintam deprimidas ou ansiosas. Afinal, terminou-se uma relação que seria para toda a vida. Nestes casos pode ser útil o recurso a um psicólogo. Recomendo a leitura do artigo "Quando o amor acaba" disponível no meu site e que versa sobre essa situação.