O valor do elogio na relação educativa foi um outro conteúdo que tivemos oportunidade de abordar na acção de sensibilização "O optimismo na educação dos nossos filhos…".
Junto de muitos educadores persiste a ideia segundo a qual elogiar uma criança poderá contribuir para que ela se sinta de tal modo valorizada que deixa mesmo de exibir o comportamento adequado/desejado. Nesta perspectiva, assume-se que as atitudes de pressionar, apontar ou criticar, são essenciais na educação infantil, pois somente assim a criança poderá aprender a conduta mais adaptada.
Vamos tentar rebater esta ideia…
Fará sentido esta tendência para olharmos privilegiadamente para o erro, o fracasso, a irregularidade, a indisciplina?
É importante reflectir que em qualquer registo da vida, há sempre algo que funciona: assim, mesmo uma criança que se comporta desadequadamente com frequência, por vezes também se comporta bem!
Sem menosprezar a importância de corrigir ou reprovar comportamentos ou atitudes desadaptados, porque não centrarmos antes o nosso olhar sobre os talentos e as excelências de cada criança, valorizando-os, na medida certa, para que se reforcem e amplifiquem?
O elogio é uma ferramenta fundamental para que tal aconteça!
Mas… como elogiar? A resposta a esta pergunta parece evidente: devemos mostrar agrado, apreço, satisfação, à pessoa que é alvo do nosso elogio.
Porém, talvez valha a pena reflectir sobre algumas características que devem acompanhar o elogio, para que possamos rentabilizar os seus efeitos positivos:
- deve ser transmitido imediatamente após o comportamento desejado acontecer (ou logo que possível), pois assim o seu valor como reforço será mais intenso (um elogio fornecido antes do comportamento acontecer, ou muito tempo após a sua ocorrência, não tem o efeito de reforço que pretendemos);
- nunca deve ser combinado com ironia ou sarcasmo (por exemplo: "Que se passa hoje para estares a arrumar o teu quarto? Estou admirado, nem parece teu!"), pois assim perde a sua intenção apreciativa;
- deve ser sincero, caso contrário vale mais não dizer nada;
- deve associar-se a qualquer pequeno esforço que signifique a mudança de comportamento no sentido positivo, e não somente ao comportamento que julgamos ser o adequado;
- deve ser incondicional, ou seja, deverá ter um conteúdo exclusivamente apreciativo, eliminando qualquer tipo de crítica (um elogio condicional poderia ser o seguinte: "Muito bem! Acabaste depressa os teus deveres! Mas ainda tinhas sido mais rápido se não tivesses conversado tanto com o teu irmão!"; por outro lado, na mesma situação, um elogio incondicional passaria por verbalizar algo como: "Os deveres já estão feitos?! Espectáculo! Estou mesmo contente contigo!").
Assim, o elogio, fornecido de forma oportuna e adequada, pode ser um instrumento fundamental para o educador optimista, no sentido de assegurar a promoção da auto-estima e o reforço dos talentos das nossas crianças!
(Para concluir… Entre estes parênteses valeria a pena perguntar: "Quem não valoriza um elogio?", "Somente as crianças?", "E os adultos?", "Não apreciam também eles o elogio nas suas diferentes relações interpessoais?" Muitas questões… As respostas possíveis proporcionariam certamente um outro artigo…)
Maria José Ribeiro (Psicóloga U.P.) exerce funções na área de intervenção comunitária no O Abrigo - Centro de Solidariedade Social de S. João de Ver (Santa Maria da Feira)
Referências:
- Marujo, H. A., Neto, L. M., & Perloiro, M. F. (1999). Educar para o Optimismo. Lisboa: Editorial Presença.
- Ramalho, V. (2002). Lá em casa mandam eles? Braga: Psiquilíbrios.
- Ribeiro, M. J. (2003). Ser Família: construção, implementação e avaliação de um programa de Educação Parental. Braga: Universidade de Minho (Dissertação de Mestrado em Psicologia Escolar apresentada ao Instituto de Educação e Psicologia).